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Em carta maravilhosa a eleitores de Trump, Lauren Jauregui fala sobre origens e sexualidade

Na noite desta sexta-feira (18), a revista Billboard publicou uma carta aberta apenas maravilhosa de autoria de Lauren Jauregui, do Fifth Harmony, endereçada àqueles que votaram em Donald Trump na recente eleição dos EUA. No documento, a cantora toca principalmente no que seria um egoísmo dos eleitores do empresário em relação ás minorias e a todos os desrespeitados pelo discurso e pelas promessas problemáticas do novo presidente.

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Todas as palmas pra ela…

Com muita clareza e contundência, Lauren aborda temas importantes como racismo e feminismo e em determinado trecho, fala sobre as próprias origens, sobre sua formação religiosa e sobre sua orientação sexual. Para tentarmos preservar ao máximo, o discurso engendrado pela artista, reproduziremos a seguir, a íntegra do documento, traduzido:

A todos que apoiam Trump e que tentam dizer que votar nele não significa que vocês sejam racistas, homofóbicos, sexistas, xenófobos, idiotas… que vocês apenas gostam de como ele realmente não ligava para o que as pessoas pensavam e apenas dizia o que quisesse… que ele não era um político, que ele não fazia parte da ordem política estabelecida e que não tinha dinheiro corrupto o apoiando…

Isto é para vocês:

Suas palavras são inúteis, porque suas ações têm levado à destruição  de todo o progresso que construimos socialmente como uma nação. Vocês com sua ignorância pura e a recusa em compreender a forma como o governo e o mundo funciona, permitiram que um magnata dos negócios sedento por poder assumisse os Estados Unidos da América. “A terra do livres, o lar dos corajosos, sob Deus, indivisível, com Liberdade e Justiça para TODOS.”

Você são HIPÓCRITAS.

Restaurar a América ao que ela já foi é apenas estagnar o progresso de nossas consciências. Vocês votaram em uma pessoa que construiu uma campanha de 18 meses baseada em seu ódio. Ele manipulou a todos com tanta facilidade por falar com suas partes mais obscuras que tinham começado a sentir-se envergonhadas com a maneira como vocês viam o mundo “politicamente correto”. Ele se tornou o campeão, porque ele falou às partes de vocês que pensam que são superiores ao resto de nós (assim como Hitler fez na Alemanha antes do Holocausto! Basta ler sua autobiografia: Mein Kampf ).

Este mundo politicamente correto que nós criamos, que é realmente apenas um mundo com etiqueta social, onde temos eliminado a linguagem do racismo e explicado o porquê disso, onde nós estabelecemos o feminismo como forma crescente de tornar as mulheres conscientes de seu valor e do direito serem tratadas como os seres complexos que são os homens (o que claramente requer ainda muito trabalho, considerando como as mulheres em toda a América, especialmente as mulheres brancas, votaram neste homem que insultou a sua própria existência cada vez que abria a boca ou desrespeitava Hillary durante sua campanha), onde tivemos de criar numerosos rótulos para ajudar as pessoas qeer que não se encaixam no molde cis heterossexual a se sentirem válidas e pertencentes a um mundo onde o pensamento fechado fez-lhes sentir-se inválidas e invisíveis durante tanto tempo. Esse é o comportamento “politicamente correto” do qual vocês querem se livrar? Vocês querem restaurar a América a um mundo onde os seres humanos ao seu redor tenham medo de serem eles mesmos e viverem e amarem livremente?

Além do quão egoísta isso é, isso não é nada parecido com Cristo, porque o seu Deus está vendo e Ele conhece os vossos corações e Ele está consciente da verdadeira razão pela qual vocês escolheram esse ser humano para governar o país mais poderoso do mundo, e eu prometo que o Deus que eu vim a conhecer e amar é intolerante ao julgamento e ao ódio. E eu sei disso, porque eu fui criada como católica romana em uma casa Latina e estudei em uma escola particular católica durante toda a minha vida, então eu estudei a religião e a Bíblia mais do que a maioria de vocês estudou. A única razão é a incapacidade de vocês aceitarem o mundo que cresce em torno de vocês. Vocês escolheram o ódio. Seus corações optaram por separar como se fossem pessoas superiores quando o único ser superior em todo este universo é muito maior do que vocês.

Nosso “politicamente correto” que o seu campeão, Donald Trump, intencionalmente ignorou durante toda a sua campanha e segue ignorando com a nomeação de seus assessores e outros funcionários do governo, é a linguagem à qual recorremos incansavelmente para nos sentirmos seguros em um mundo que nunca para de nos lembrar que somos minorias. Eu sou uma mulher cubano-americana bissexual e sou muito orgulhosa disso. Sou orgulhosa de fazer parte de uma comunidade que tem projetos de amor, de educação e de apoio de uns aos outros. Tenho orgulho de ser a neta e filha de imigrantes que tiveram a coragem de abandonar as suas casas e chegarem a um mundo totalmente novo com uma língua e cultura diferentes e mergulharem sem medo de começar uma vida melhor para si e suas famílias.

Tenho orgulho de ser uma mulher. Orgulho de que o sexo entre as minhas pernas forneça uma força e uma resistência pra mim que apenas outras mulheres podem sentir, de que o meu corpo de curvas permita-me criar vida dentro de mim, de que toda a minha vida esteja cheia de adversidades e dúvidas, com pessoas questionando a minha inteligência e meu potencial artístico e minha própria expressão, e minha virtude e minha honra, porque eu sou muito mulher. Tenho orgulho de provar-lhes que estão errados. Tenho orgulho de ter que trabalhar ainda mais para isso. Fui criada para sentir que eu posso fazer QUALQUER COISA, e eu sempre vou acreditar nisso. Tenho orgulho de sentir todo o espectro dos meus sentimentos e terei prazer de levar os rótulos de “vadia” e “problemática” por falar o que penso da mesma forma que qualquer homem seria admirado e respeitado por fazer igual. Mas, eu também vou estender a mão cheia de compaixão e empatia a qualquer um que me rotular como tal.

Eu também sei que na minha luta por ser uma mulher, sou muito privilegiada. Eu nasci com uma tez mais clara e os olhos verdes (graças à genética) de modo que nessa perspectiva mais fechada, sou branca. Eu experimentei o privilégio que esses genes me concederam, e eu sou grata e vou continuar a falar em nome das mulheres em todo o mundo e em nosso próprio país que não experimentam uma fração desse respeito por causa da cor da sua pele ou por conta do que escolhem para vestir, ou por conta do cabelo, ou por conta da quantidade de maquiagem que estão usando ou por quaisquer outros absurdos aos quais nós mulheres somos reduzidas.

É realmente desanimador para mim ver tantas mulheres bonitas que não têm nenhuma ideia do seu potencial. Esta eleição deixou muito claro que muitas mulheres não conseguem enxergar isso. Temos falhado como uma nação. Nós somos exemplo para o mundo, e nós falhamos com nossos companheiros seres humanos que estavam nos observando com a esperança de que não permitíssemos que o ódio prevalecesse. Eu tive o privilégio de estar em uma banda que me permitiu viajar por todo o mundo. Eu não posso expressar a gratidão que tenho por esta experiência porque abriu meus olhos para muitas coisas e me permitiu ver o mundo de uma perspectiva tão simples, uma perspectiva que eu entendo que poucas pessoas têm a oportunidade de experimentar.

Se eu pudesse dizer a cada apoiador de Trump duas coisas, seria para viajar e ler um livro de história. Olhem para além de vocês mesmos, olhe o quão insignificante é a moral que vocês sustentam quando percebem que não somos únicos. Percebam que sua pele branca é o resultado da imigração da Europa, que os únicos verdadeiros “americanos” são os americanos nativos, que são os povos indígenas que habitavam esta terra antes que esses vencedores de outros países (Inglaterra, França, Itália, Espanha) os exterminassem quase inteiramente. Nenhum de nós pertencemos a aqui, mas todos nós merecemos o direito de nos sentirmos seguro e viver nossas vidas em paz. O direito de não ter que nos preocupar com morrer, ou sermos electrocutados, ou espancados ou estuprados, ou abusados emocionalmente porque a nossa existência e / ou escolhas perturbem alguém. Este é o mundo que Trump está promovendo. Esta é a separação que tem aumentado desde o começo da campanha. Nós não somos mais a América indivisível, estamos unidos em dois lados separados: Amor e ódio. Nós não estamos “choramingando” por nossa candidata ter perdido, estamos gritando gritos de guerra contra aqueles cujas agendas políticas e pessoais ameaçam nossas vidas e sanidade. Estamos nos certificando de que vocês nos ouvem, não importa o quanto isso incomoda vocês, nós EXISTIMOS.”

por Pedro Hosken, 19 de November de 2016

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